Como evitar chulé e o pé de atleta: dermatologista explica cuidados simples e eficazes
16/08/2025
(Foto: Reprodução) Como evitar chulé e o pé de atleta: dermatologista explica cuidados simples e eficazes
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Se a gente der um “zoom” na nossa pele, vai encontrar milhões de bactérias. E as áreas mais quentes e úmidas, como os pés, são a moradia preferida desses microrganismos. A região entre os dedos dos pés retém bastante umidade, principalmente quando estão constantemente cobertos por meias e sapatos fechados. E o resultado é aquele cheiro inconfundível de chulé. Mas como evitá-lo?
O ser humano tem cerca de 250 mil glândulas sudoríparas na sola de cada pé, quantidade comparável à das mãos. E elas têm função de regular a temperatura. Já as glândulas sebáceas são poucas na sola dos pés e estão mais presentes no dorso. E a combinação de suor, sebo e umidade também colabora para esse ambiente mais propício ao crescimento de microrganismos.
Além das bactérias, os fungos também fazem a festa nos pés suados. São eles que causam uma das infecções dermatológicas mais comuns, o chamado pé-de-atleta. A doença causa coceira, descamação, rachaduras e é altamente contagiosa.
O Bem-Estar conversou com o médico dermatologista Cauê Cedar, da Sociedade Brasileira de Dermatologia, para tirar algumas dúvidas.
O ideal é lavar cos pés com água morna e sabonete, utilizando uma esponja macia para remover a sujeira e células mortas, especialmente entre os dedos. É importante secar bem, com toalha limpa, inclusive entre os dedos. E não é obrigatório o uso de sabonetes específicos. Não é recomendado usar sapato sem meia. E sapatos e meias são de uso pessoal.
Confira abaixo 15 perguntas e respostas respondidas pelo especialista sobre o assunto e saiba mais:
1. O que podemos encontrar nos pés em relação aos microrganismos?
Os pés são um ambiente ideal para microrganismos como bactérias e fungos, devido à alta umidade, presença de células mortas, suor e calor. Isso favorece o crescimento e a proliferação dos microrganismos. A pouca exposição e falta de circulação do ar também dificultam a evaporação da umidade.
2. Como a umidade e o calor nos pés contribuem para o mau cheiro?
A umidade e calor favorecem a proliferação de bactérias que se alimentam do suor e das células mortas da pele. O mau cheiro, conhecido como chulé (bromidrose plantar), é resultado da liberação de compostos químicos por bactérias e fungos.
3. O uso constante de meias e sapatos fechados pode favorecer o surgimento do chulé?
Sim. Durante o inverno, por exemplo, o uso constante de sapatos fechados e meias, junto com a falta de limpeza adequada e repetição de meias e sapatos, favorece o acúmulo de bactérias e o mau cheiro.
4. Qual é a importância de lavar os pés diariamente? Como lavar? Precisa de sabão especial?
A higienização diária ajuda a controlar bactérias, fungos, resíduos e a umidade. O ideal é lavar com água morna e sabonete, utilizando uma esponja macia para remover sujeira e células mortas, especialmente entre os dedos, e também no peito do pé e na sola.
Além disso, é importante secar bem, com toalha limpa, e inclusive entre os dedos. O uso de secador pode ajudar, desde que seja feito com cuidado para não queimar a pele. E não é obrigatório o uso de sabonetes específicos.
Em casos de problemas recorrentes, podem ser usados sabonetes antibacterianos ou antifúngicos, mas estes não são recomendados para uso diário. O sabonete mais neutro possível, como glicerina ou hidratante comum, é o ideal.
Nesse momento de cuidado, é importante olhar seus pés, perceber se tem alguma lesão, bolha ou algo suspeito. Em caso positivo, procurar um dermatologista.
5. O uso de talco nos pés é recomendado para prevenir o mau cheiro? Funciona?
Sim, é uma boa estratégia para controle da transpiração e do mau odor. Existem produtos específicos para os pés, que devem ser aplicados com os pés limpos e secos. Se houver alergia ou irritação, o uso deve ser interrompido. Sprays e aerossóis próprios para os pés também são boas estratégias.
6. Podemos usar produtos para axilas nos pés?
Algumas formulações podem deixar a pele dos pés mais sensibilizada do que a das axilas, causando danos à pele, alergia, irritação, coceira e até feridas. Não há contraindicação absoluta, mas depende de cada caso. Peles de áreas diferentes do corpo reagem de formas diferentes aos produtos.
7. A umidade também pode causar pé de atleta?
Sim. O pé de atleta (frieira) é uma infecção fúngica que costuma começar entre os dedos. Em geral, os fungos e bactérias vivem normalmente na nossa pele. Mas em contextos de maior calor e umidade, podem causar infecções e doenças.
Os sintomas principais do pé de atleta são coceira, descamação e mau odor. Algumas pessoas relatam o surgimento de uma "massinha" entre os dedos. E qualquer pessoa pode contrair a condição.
Para tratar, primeiro, é preciso revisar os hábitos de higiene. O tratamento pode incluir medicamentos tópicos ou, em casos mais graves, medicamentos sistêmicos (via oral).
O pé de atleta é contagioso. Por isso, não se deve compartilhar meias ou calçados. Parte do tratamento inclui cuidados com meias e sapatos.
8. Quais hábitos podem ajudar a prevenir chulé e infecções fúngicas nos pés?
Lavar e secar os pés adequadamente
Hidratar a pele, principalmente o dorso
Cuidar das unhas (inclusive embaixo delas, onde acumula sujeira)
Usar meias limpas e secas, de preferência de algodão ou lã (tecidos naturais)
Não reutilizar meias usadas e suadas
Fazer rodízio de calçados (não usar os mesmos todos os dias)
Fazer higienização correta dos calçados, com desinfectante de superfícies
9. Passar a meia com ferro ajuda a eliminar microrganismos?
Pode ajudar, mas pode também diminuir a resistência do tecido. Secar ao sol já é uma boa forma de controle.
11. O que fazer se a pessoa precisa usar o mesmo sapato todos os dias?
Neste caso, a atuação é na redução de danos. É importante higienizar o calçado com desinfectante de superfícies e deixá-lo arejando (por exemplo, em uma janela ou área de serviço). A pessoa pode usar o produto líquido, com um pano/lenço, ou aerossol, três vezes por semana, conforme indicação do produto.
10. Alguns tipos de sapatos podem causar mais chulé?
Sim. Sapatos emborrachados e muito fechados dificultam a ventilação, o que favorece a proliferação de fungos e bactérias.
11. Por que não devemos compartilhar meias e calçados?
Sapatos e meias são de uso pessoal. Compartilhar meias e calçados aumenta o risco de passar fungos e bactérias de uma pessoa para outra. Se a pessoa precisa compartilhar o sapato, o ideal é higienizar entre usos com produto desinfectante ou mesmo álcool 70% (se o material do calçado suportar).
12. Usar sapato sem meia é um problema?
Sim. Aumenta a chance de acúmulo de suor e aumenta a fricção, podendo causar microfissuras na pele. Qualquer fissura na pele é uma porta de entrada para microrganismos, além de favorecer o mau cheiro.
13. O tecido da meia faz diferença? Qual é o melhor para evitar o chulé?
Sim. Tecidos naturais como algodão e lã são os mais indicados, pois absorvem melhor o suor e permitem a respiração da pele.
14. Podemos usar produtos de limpeza doméstica para eliminar bactérias e fungos das roupas (e meias) na lavagem?
Antissépticos e desinfetantes de limpeza doméstica não são recomendados para uso em roupas ou meias. Há produtos próprios para isso, como os que os médicos usam para lavar jalecos, mas não são necessários.
Basta lavar com sabão, água, enxaguar bem, secar em ambiente ventilado ou no sol. Cuidado com os resíduos de alvejante e amaciante nas roupas, porque eles podem causar irritação na pele.
15. Quem tem hiperidrose (produz suor em excesso) pode desenvolver a bromidrose. O que fazer?
Nestes casos, é recomendado procurar ajuda médica. O tratamento é feito para diminuir a sudorese e pode incluir medicamentos orais, aplicação de toxina botulínica nos pés e até procedimentos cirúrgicos para bloqueio de nervos dos pés.
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