Prefeitura de SP diz que fará novo Censo da População de Rua em 2025; último levantamento é de 2021
06/10/2025
(Foto: Reprodução) Prefeitura de SP anuncia novo Censo da População de Rua para 2025
A Prefeitura de São Paulo afirmou nesta segunda-feira (6) que realizou uma licitação para atualizar o Censo da População de Rua. Segundo a gestão municipal, o processo foi feito na última quarta-feira (1º) e a nova pesquisa será produzida ainda em 2025.
O Censo da População de Rua mais recente foi feito em 2021 e publicado em 2022. Os dados, no entanto, divergem da base de números do governo federal e de outras iniciativas que trabalham com pessoas em situação de vulnerabilidade. Especialistas afirmam que a ferramenta é fundamental para pensar em políticas públicas voltados para pessoas nesta situação.
Um levantamento realizado pela TV Globo, com base em dados do Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico), mostra que 109.981 pessoas vivem em situação de rua na Grande São Paulo. Somente na capital, são 98.666 pessoas nesta situação — o número equivale a 90% do total de pessoas nesta condição.
O número divulgado pela gestão do prefeito de São Paulo Ricardo Nunes (MDB), no entanto, é bem menor. De acordo com o último Censo da prefeitura, somente 31.884 pessoas vivem em situação de rua na capital.
Pessoas em situação de rua marcham pelo Centro de SP em protesto contra ações da prefeitura
Divulgação / Articulação Permanente de Direitos da População em Situação de Rua
A prefeitura de São Paulo contesta os dados do governo federal, mas não atualiza a base de dados desde o último Censo, realizado em 2021.
Segundo Cláudia Adão, assistente social e doutora pela Universidade de São Paulo (USP), com esse empasse, o poder público não consegue ter a real dimensão do problema.
"O CadÚnico tem base cumulativa, então toda vez que a pessoa é atendida, ela é registrada. Isso pode superestimar os números, ou seja, pode ter atendimentos em duplicidade — e isso tende a deixar os números maiores", afirmou.
"Já o Censo, a metodologia na cidade de São Paulo, é feito em uma única noite, como fosse uma fotografia atual, não conseguindo abordar todas as pessoas. O ideal seria o cruzamento desses dois dados e Censos focados na população em situação de rua em um período mais curto."
A duplicidade dos números, com duas fontes diferentes, não é o único problema. A situação se agrava na Grande São Paulo, porque algumas cidades nem sequer realizam o mapeamento das pessoas em estado de vulnerabilidade.
É o caso de Guarulhos, a segunda maior cidade do estado. Segundo dados do CadÚnico, são mais de 2.700 pessoas vivendo na rua. O município, no entanto, não tem números dessa realidade.
Em nota, a Prefeitura de Guarulhos disse que fará um levantamento próprio a partir do 2026 e admitiu que a falta de dados impacta diretamente no atendimento. No entanto, afirmou que realiza o atendimento de pessoas em situação de rua com serviços sociais no município.
Paula Paiva Paulo/G1
Camas embaixo do Viaduto Alcântara Machado, onde vivem cerca de 150 pessoas que não foram contabilizadas pelo novo Censo da População em Situação de Rua de SP
População de rua
Quase 3.000 pessoas passaram a viver em situação de rua na cidade de São Paulo no primeiro trimestre deste ano. Esse número se soma a um contingente que, em março, chegou a 96.220 — contra 93.355 em janeiro.
No estado de São Paulo, foi registrado um aumento similar com 143.509 pessoas em situação de rua em março — ante 140.543 em janeiro.
Segundo o levantamento, 84% das pessoas vivendo nas ruas são homens e 81% vivem com até R$ 108 por mês. Mais da metade (52%) não terminou o ensino fundamental ou nem tem escolaridade.
Os dados são divididos em três categorias pelo OBPopRua: estados com aumento, diminuição ou estabilidade na concentração de registros de pessoas em situação de rua no CadÚnico.
Apesar de ter o maior número de pessoas em situação de rua do Brasil, o cenário de São Paulo foi classificado como estável.
O levantamento é do Observatório Brasileiro de Políticas Públicas com a População em Situação de Rua (OBPopRua), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com base nos dados de pessoas em situação de rua registradas no CadÚnico.