Tarifaço de Trump: por que o dólar e a bolsa não reagiram tão mal aos efeitos negativos?

  • 16/08/2025
(Foto: Reprodução)
A uma semana de tarifaço, dólar sobe e Ibovespa tem queda Quando o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, a primeira reação do mercado financeiro foi de pânico: o dólar disparou e o Ibovespa caiu. Mas, desde que de fato entrou em vigor na última quarta-feira (6), a medida parece ter provocado pouco — ou nenhum — impacto no mercado financeiro. A moeda americana acumula uma desvalorização de 3,62% neste mês, enquanto a bolsa de valores subiu 1,98%. 📱Baixe o app do g1 para ver notícias em tempo real e de graça Mais que isso: o dólar chegou a bater o menor valor em um ano e meio nesta semana. E a bolsa está a pouco mais de 3% de seu recorde de pontuação. Segundo os especialistas ouvidos pelo g1, embora o tarifaço possa gerar perdas para a economia brasileira, o pessimismo dos investidores diminuiu desde o anúncio inicial. Um dos principais motivos é que quase 700 produtos foram mantidos com a tarifa de 10%, ficando de fora do aumento. Entre eles estão suco de laranja, minério de ferro, fertilizantes e itens da aviação civil. Leonel Mattos, analista sênior de Inteligência de Mercado da StoneX, explica que, para investidores que aguardavam um aumento generalizado de 50%, o tarifaço acabou sendo visto como “menos pior” do que o inicialmente previsto. “A preocupação com o impacto no Brasil diminuiu bastante após a divulgação da ordem executiva, que incluiu diversas exceções. Dos produtos exportados para os EUA, cerca de 36% foram atingidos pela tarifa de 50%”, diz o analista. Tarifaço “precificado” na bolsa Outro ponto que abrandou os efeitos do tarifaço é de que não há um impacto sistêmico no Brasil, afetando apenas uma parte das exportações para os EUA. Grande parte desse risco já havia sido antecipada pelo mercado e incorporada aos preços. Marco Noernberg, sócio da Manchester Investimentos, lembra que a bolsa de valores, por exemplo, já registrava quedas antes da efetivação das tarifas. Em julho, o Ibovespa caiu 4,17%, registrando o pior desempenho mensal do ano até agora e a maior baixa desde dezembro de 2024. Ainda assim, ele ressalta que o impacto negativo do tarifaço sobre o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro é estimado em cerca de 0,1% — ruim, mas insuficiente para desestabilizar o mercado. “[O tarifaço] não é positivo, mas também não é algo que vá desestabilizar as ações negociadas em bolsa. Grande parte desse risco já havia sido incorporada, e as empresas mais expostas sentiram os efeitos antes mesmo da aplicação das tarifas.” Ou seja, o mercado já havia refeito as posições de investimento antes de a medida entrar em vigor, o que contribuiu para a queda da bolsa de valores no mês passado. Desvalorização mundial do dólar Por outro lado, a recente queda do dólar — que nesta semana voltou a níveis próximos aos de junho de 2024 — tem pouca relação com o tarifaço sobre produtos brasileiros e está mais associada ao cenário político e econômico dos EUA. Dados do Banco Central mostram que, entre 13 de julho e 13 de agosto, o real se valorizou 3,7% frente ao dólar — a maior alta entre as principais moedas globais, mesmo com o tarifaço em vigor. Outras moedas também se valorizaram em relação ao dólar, como o rand sul-africano (+1,8%), o forint húngaro (+1,3%), o peso chileno (+1,2%), a libra esterlina (+0,5%), o peso mexicano (+0,8%), o zloty polonês (+0,1%) e o euro (+0,1%). Leonel Mattos explica que a queda do dólar em relação a outras moedas reflete a perda de confiança dos investidores nos EUA, motivada, entre outros fatores, pelo temor de interferências políticas nas instituições econômicas. “A própria Casa Branca agrava o cenário ao anunciar medidas e recuar logo em seguida, o que gera insegurança jurídica e desconfiança no mercado. Com menos investimentos nos EUA e no dólar, os recursos acabam migrando para outros países e moedas”, afirma. Mapa do tarifaço Arte/g1 Desaceleração econômica nos EUA Além da instabilidade provocada pelas decisões de Trump, a economia norte-americana apresenta sinais de pressão estagflacionária — quando há, ao mesmo tempo, crescimento fraco, inflação alta e aumento do desemprego. Segundo Mattos, esse cenário impõe desafios adicionais ao Federal Reserve (Fed), o banco central dos EUA, que já enfrenta riscos como as tarifas impostas por Trump e a desvalorização do dólar — fator que, por si só, encarece as importações e pressiona os preços para os consumidores americanos. “Isso coloca o Fed em uma encruzilhada: reduzir juros para conter o risco de desaceleração econômica ou elevá-los para controlar a inflação”, afirma o analista sênior da StoneX. Atualmente, a taxa de juros nos EUA está entre 4,25% e 4,5% ao ano. Segundo estimativas da ferramenta FedWatch, da CME, 84% dos investidores esperam um corte já em setembro. Bolsa e câmbio de olho no Fed Os movimentos da política de juros dos EUA também influenciam a economia brasileira. André Muller, estrategista e economista da AZ Quest, destaca que esse deve ser um dos fatores mais relevantes para a trajetória do real nos próximos meses. “Se aumentar a expectativa de cortes de juros pelo Fed, o dólar deve continuar se desvalorizando frente a várias moedas, incluindo o real”, afirma. Na bolsa de valores, o cenário é parecido. Segundo Noernberg, da Manchester Investimentos, quando os títulos soberanos dos EUA — considerados de baixo risco — oferecem rendimentos menores, os investidores tendem a buscar mercados com retornos mais altos. “E esses investidores acabam vindo para o Brasil, favorecendo o real e o Ibovespa. Um corte de juros pelo Fed pode impulsionar a bolsa e pressionar o dólar para baixo”, completa.

FONTE: https://g1.globo.com/economia/noticia/2025/08/16/tarifaco-de-trump-por-que-o-dolar-e-a-bolsa-nao-reagiram-tao-mal.ghtml


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